Conversación en la Catedral
Zavalita se pregunta cuándo se jodió el Perú, y cuándo se jodió él. De fondo está Lima, con una bruma eterna en la costa, y cerveza y pasado: la dictadura que lo jodió todo, y torturas y asesinatos y desapariciones; también está el recuerdo de un chofer que a la vez fue verdugo ignorante y testigo de los años en que Perú se hizo violencia y nostalgia como un triste bolero de Jaramillo. Por ejemplo: Hermelinda. Por ejemplo: Ódiame.
"Desde la puerta de La Crónica Santiago mira la avenida Tacna, sin amor: automóviles, edificios desiguales y descoloridos, esqueletos de avisos luminosos flotando en la neblina, el mediodía gris. ¿En qué momento se había jodido el Perú?”.
Mario Vargas Llosa cumplió 80 años y aún escribe; cuando decidí ser escritor quise ser como él: escritor de la forma, de la novela como artefacto; el talento que se logra con esfuerzo y no con inspiración, como dijo en su autobiografía Como pez en el agua.
"El lustrabotas ha terminado con Norwin y ahora embetuna los zapatos de Santiago, silbando. ¿Cómo iban las cosas por última hora?, ¿qué se contaban esos bandoleros? Se quejaban de la ingratitud, Zavalita, que viniera alguna vez a visitarlos, como antes. O sea que ahora tenías un montón de tiempo libre, Zavalita, ¿trabajabas en otro sitio?”.
Conversación en la catedral es una novela mundo; ya lo dijo Vargas Llosa en una charla con Javier Cercas: "Flaubert aspiró a una novela total, yo lo intenté con menos tino”; y con demasiada lucidez; es una novela coral, de voces que surgen y otras que se apagan y reconstruyen el Perú de los años 70; y Zavalita se encuentra perdido, como corresponsal de un periódico de crónica roja, después de negar a su familia.
"Cuatro semanas sin ver a la mamá, a la Teté. Quién iba a decir que Popeye se recibiría de arquitecto, Zavalita, quién que acabarías escribiendo editoriales contra los perros de Lima. Piensa: dentro de poco seré barrigón. Iría al baño turco, jugaría tenis en el Terrazas, en seis meses quemaría la grasa y otra vez un vientre liso como a los quince. Apurarse, romper la inercia, sacudirse. Piensa: deporte, ésa es la solución. El parque de Miraflores ya, la Quebrada, el Malecón, en la esquina de Benavides maestro. Baja, camina hacia Porta, las manos en los bolsillos, cabizbajo, ¿qué me pasa hoy?”.
Es la tercera novela que escribió y donde llevó al extremo la forma de contar: más cercana al Ruido y la furia, que Luz de agosto, de William Faulkner. Si en La ciudad y los perros cada párrafo nos trasladaba a dos momentos diferentes, en Conversación en la catedral cada coma o punto y coma o conjunción nos traslada a otra voz u otra época.
"Galpones malolientes y en escombros, un cielo gris acero, bocanadas de aire mojado. A cinco metros de ellos una oscura silueta, de pie junto a un costal, forcejea con un salchicha que protesta con voz demasiado fiera para su mínimo cuerpo y se retuerce histérico: ayúdalo, Pancras. El sambo bajito corre, abre el costal, el otro zambulle adentro al salchicha [así era el Perú, Zavalita]”.
Mario Vargas Llosa es el último escritor (aún con vida) del Boom Latinoamericano; cuando la novela parió nuestras tierras, y por fin nos diferenciamos de Europa y Estados Unidos; cuando nuestra escritura nos definió como latinoamericanos; con el juego de las palabras; la crítica y la imagen; los espejos y la realidad.
"La Policía había arrancado los cartelones de la fachada de San Marcos, borrado los vivas a la huelga y los mueras a Odría. No se veían estudiantes en el parque Universitario. Había guardias apiñados frente a la capilla de los próceres, dos patrulleros en la esquina de Azángaro, tropa de asalto en los corralones vecinos. Santiago recorrió la Colmena, la plaza San Martín. En el Jirón de la Unión cada 20 metros aparecía un guardia impávido entre los transeúntes, la metralleta bajo el brazo, la máscara contra gases a la espalda, un racimo de granadas lacrimógenas en la cintura”.
Zavalita aún se pregunta: ¿cuándo se jodió el Perú?, y es una pregunta de esperanza y de crítica, y de batalla y laberintos; nos hace ser lo que somos: "la sangre dentro de las venas de Latinoamérica; y somos un pedazo de tierra que aún vale la pena”.
Mauricio Rodríguez Medrano é escritor e vive em La paz.
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