Estado de Emergência
Há longos anos que vivemos num Estado de Emergência. Todas as horas, todos os dias, todos os meses, o povo angolano vive situações que ultrapassam a urgência e que cobrem a bandeira de vergonha e de luto. E as mesmas bocas que comem às custas do dinheiro público, são aquelas que se apressam em dizer que, se há problemas, é porque ainda não tivemos tempo para os resolver. Quanto tempo mais, quanto dinheiro mais é que Angola precisa para resolver os problemas básicos dos angolanos e angolanas?
Enquanto as desculpas esfarrapadas se repetem sem esforço de criatividade, a nação morre nas filas de espera dos hospitais públicos, perante os olhos ausentes e serenos de quem tem nas suas mãos o poder para evitar essa desgraça.
Os factos gritam tão alto que ensurdecem. Basta sair à rua e não ser cego, nem míope. Basta ler os jornais. Se numa página lemos sobre as carências na Saúde e na Educação, noutra vemos o orçamento irrisório que estes sectores recebem do Orçamento de Estado. É assim tão matematicamente complicado fazer a ligação entre as duas variáveis, entre a causa e a consequência?
Se de um lado temos uma elite cada vez mais insensível à realidade, protegida detrás dos seus condomínios de luxo, do outro vemos crescer os musseques sem saneamento básico nem recolha de lixo, fazendo desses bairros um foco de doenças que poderiam ser evitadas. Trata-se de uma verdadeira calamidade nacional, cuja gravidade é tantas vezes subvalorizada, e com tamanho descaramento, nesses debates sujos e gastos que vemos na TV, que nos leva a crer que ninguém está realmente interessado em sanar estas feridas.
Será que lemos todos as mesmas notícias? Outra vez, de um lado os números perversos da mortalidade infantil, do outro os números igualmente perversos dos milhões desviados nas viciosas rotas da corrupção? Como é que se responde a isso? Com sociologia barata? Com teorias da conspiração? Chamando nomes a quem aponta o dedo, a quem reclama, a quem está cansado? Quem são, definitivamente, os inimigos desta nação?
Haja bom senso ou, pelo menos, decoro. Se o partido no poder é o único com capacidade para governar este país, porque é que não o faz? Porque é que o Governo se despede das suas próprias funções de gestão da saúde pública e as delega na sociedade civil? Por mais solidários que formos, conseguiremos juntar esforços para ajudar todos os hospitais em Estado de Emergência neste país? Quantas semanas duram as campanhas de solidariedade?
Porque é que uma companhia telefónica vai acabar com a malária em Angola e não o Governo, se os impostos que pagamos vão para os seus cofres? Se o Estado não serve para garantir e velar pela sobrevivência dos cidadãos, se essa não é a sua responsabilidade primeira, para que serve afinal? São perguntas legitimas que qualquer angolano se faz, perguntas que merecem resposta honesta, sem manipulação, sem engano.
As sirenes soam há tantos anos que parece que as deixamos de ouvir. O seu grito estridente misturou-se com outros ruídos, dos geradores, das obras megalónomas, dos festivais da juventude, das buzinas no trânsito. Já não se ouve nem os que choram os seus mortos. Se isto não é fracassar, o que é que falta?
Aline Frazão é nascida em Luanda, Angola, em 1988. É cantora e compositora. Também é licenciada em Ciências da Comunicação.
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